Só a mim.
-Trinta flexões. Agora!!!!!!! Sousa tu ficas quieta!
bem tenho que admitir que estar de muletas às vezes até dá jeito. Se não fosse por elas estaria agora a encher trinta porque a Ana não ouviu o instrutor a chamá-la, devido a estar distraída a olhar para o Alves. E para melhorar o cenário posso apreciar os meus adorados colegas a encher, o que diga-se de passagem faz crescer água na boca só de imaginar.
-Vinte e oito, vinte e nove, trinta! Muito bem, podem entrar para o refeitório. Sousa e Moreira vocês as duas ficam para último.
Mas o que é que raio é que o nosso sargento nos quer(nada de pensar coisas! Nosso é uma forma de tratamento respeitoso na tropa), à Ana se percebe, vai-lhe passar um raspanete por ela estar a olhar para o cu do Alves em vez de lhe prestar atenção. Mas eu não fiz nada, na realidade não tenho feito mesmo nada graças às muletas e ao santo do entorse no pé.
-Moreira - disse o nosso sargento assim que o pessoal "evacuou" para o refeitório - se te volto a chamar e tu não respondes porque estás demasiado ocupada a olhar para o Alves eu juro que vais desejar nunca ter concorrido para a academia. Sousa o director quer falar contigo, por isso põem-te a andar.
-Sim, meu sargento. - disse eu
Estou para ver quando é que vou almoçar, o Director só sabe falar, quando sair do gabinete já vão ser horas de lanchar!
-Raios. As minhas mãos. - disse eu a falar sozinha, um sinal de maluqueira eu sei mas é a vida - Se eu apanho o inventor das muletas......
-Acho que mesmo que ele fosse vivo seria um bocado difícil de o matar, não achas?
A sério que não sei como é que ele o faz, mas o Ricardo tem uma pontaria de meter medo ao susto!
-Estava a ser irónica - disse eu - Não ia matar o pobre coitado.
-Eu sei que não, estava só a meter-me contigo.
-Não tens nada de mais produtivo que fazer'
-até tinha mas mandaram-me vir falar com o Director, e por isso tive que deixar o meu adorado puré de batata rançosa a meio. ironizou o Ricardo
-O quê?! Hoje é puré? Que nojo!
-Infelizmente sim. Acho que até morrer alguém vamos ter que comer aquilo.
-Nem os presos comem tão mal - queixei-me eu.
-Isso é a experiência a falar?
-Não. Oh boa, escadas! - disse eu ao chegar-mos ao edifício central
-Mas será que só te sabes queixar? - disse o Ricardo
-Não também sei lamuriar-me, porquê?
-Só para saber.
-Não comeces. Já experimentaste subir escadas de muletas? Posso-te garantir que não é divertido.
-Que não seja por isso. - disse o Ricardo e pegou-me ao colo
-Pousa-me no chão! - berrei eu - Estás doido?!
-Mariquinhas. Achas que eu te vou deixar cair? - disse o Ricardo
-É exactamente disso que tenho medo.
-Já te deixei cair por acaso?
-Não e não quero experimentar.- disse eu
-Está bem. Mas podias ao menos agradecer, graças a mim não tiveste que subir escadas.
-Obrigada.- disse eu
-Ah já chegaram. Sentem-se. - disse o Director - Como é que está o teu pé Sousa?
-Bem obrigada - disse eu
-Mandei-vos chamar porque já encontra-mos o responsável pelo incidente da semana passada. Agradeço-vos por me terem vindo informar logo da situação
Pois porque se não informássemos o mais provável era sermos expulsos por isso não me parece que tivéssemos grande escolha!
-Queria também informar-vos de que não se voltará a repetir a situação.
Mas será que o homem não se cala? Já está á meia hora a falar do mesmo e não se cala. O homem deve gostar mesmo muito de monólogos!
-Bem não vos retenho mais podem ir almoçar. E muito obrigado.
Aleluia!
-Obrigado. - disse o Ricardo
--Meu Deus o homem não se cala. - disse o Ricardo
-Isso são maneiras de falar do nosso adorado director, Gomes?
-Estás bem? - disse o Ricardo a olhar para mim com uma expressão na cara de incredibilidade
-Estava no gozo, escusas de ficar a pensar que sou masoquista. Só devo ter ouvido os dois primeiros minutos do paleio o resto não ouvi nada. mas tu importas-te? - disse eu
-Eu não.
-Ai que piada pousa-me no chão. Eu sei andar!
-Não duvido disso mas assim demoravas mais tempo.
-E o que é que tu tens a ver com isso?
-Não te vou deixar sozinha ainda te matas.
-Ai que piada. Eu sei tomar conta de mim.
-Não sei se acredito nisso.
-Já me podes pousar no chão. - disse eu ao chegar-mos ao fim das escadas.
-Ok. queres companhia até ao refeitório?
-Não é preciso. A não ser que queiras ir dizer olá ao Sargento Pereira.
-Ao Pereira? São vocês que almoçam com ele? Coitados!
-É divertido.
-estás doente?
-Não, Hoje tive a oportunidade de ver os meus colegas a encher e eu fiquei quieta a observar.
-E a olhar para o cu de alguns não?
-Mas que impressão é que tens de mim? Achas que eu faria isso?
-Não acho, tenho a certeza.
-obrigadinho. Mas tens razão até olhei.
-E depois o perverso sou eu.
-Não disse isso.
-Pois não mas pensas-te.
-Nem vou comentar essa.
-Bem queres entrar, ou preferes ir comer puré à outra cantina?
-Não leves a mal porque até nem me importava de almoçar contigo mas não me parece que o resto do pessoal acha-se muita piada.
-Ok, eu não levo a mal.
-A gente vê-se por ai.
-Ok.
Meu deus! porquê que ele tem sempre que me dar um beijo? Não que me importe, mas isto não vai contribuir para a diminuição do histerismo da Ana.
Bem a cara dela está linda. mas um bocado e os olhos saltam-lhe das órbitas.
-Aquele é o Ricardo? - disparou ela mal me sentei à mesa
-Sim. Porquê?
-Porquê? - disse a Sofia - Tu não deves ver o mesmo que eu só pode. O gajo é podre de bom.
-Já tinha reparado - disse eu
-Só a mim é que não me acontecem destas- queixou-se a Sofia.
-Nem comento.
-Não precisas a tua cara diz tudo. - disse a Ana
-Não foi graças a mim que o pessoal teve que encher trinta.
-Mas tu falas baixo!
-Porquê o Alves ouviu o nosso Sargento.
-Não ouviu nada.
-Acredita que ouviu. Ele foi o último a entrar.
-Oh Meu Deus que vergonha.
-E bem vergonha. - disse eu
-Preparada para fazeres de vela o resto do ano Di? - perguntou a Sofia
-Já estou habituada. Não fiz outra coisa durante o secundário inteiro.
-A tua vida devia ser mesmo deprimente.
-Nem tu sabes o quanto...