A minha nova casa
As minhas primeiras semanas na Academia poderiam ser descritas da seguinte maneira: dores musculares à vontade do freguês, molhas e noites passadas em branco todos os dias/noites, muito estudo, passar a vida da universidade para a academia (Os alunos de medicina têm aulas na faculdade, porque 2% das vagas são para o exército, o que equivale a umas dez pessoas mais ou menos) e acima de tudo a melhor coisa que me aconteceu nos últimos três anos. A Ana revelou-se uma amiga excepcional, completamente doida e que não me deixa deprimir por nada deste mundo e conheci o Alves que é o amor da vida da Ana é hilariante vê-la a engasgar-se quando ele vem falar connosco. Já devo ter enchido umas 300 flexões à custa do meu riso histérico provocado pela cara que a Ana faz. Eles conhecem-se à cinco anos mas a Ana não tem coragem para lhe dizer que gosta dele e vice-versa, mas pelo menos assim não tenho que fazer de vela. Por isso já arranjei pessoal para substituir o Pedro e a Jô, que estão em Coimbra a viver ao lado um do outro, mas que segundo a Jê (que vive com a Jô) vivem mais juntos porque só muito raramente é que a Joana está em casa (vá-se lá saber porquê!). Todos os meus amigos do secundário estão a adorar a universidade e eu estou a adorar a academia. Isto faz-me bem, quando estou mais para o deprimida vou correr ( o que faço muitas vezes, tantas que quando escurece já nem tropeço nem nada de tão habituada que estou a treinar no escuro) e andar aos tiros é óptimo para aliviar o stress (na realidade eu a Ana e o Alves somo os melhores atiradores da academia o que é muito fixe!) quanto à medicina vai andando estou a aprender (lentamente) a gostar daquilo, o que diminui em muito o meu mau humor por ter de ir estudar o sistema digestivo de um humano ou algo do género.
-Aonde é que vais? - perguntou a Ana
-Pintar o edifício principal de azul. O que te parece?
-Acho que tens que fazer para o resto da tua vida. Queres mais um par mãos? - perguntou a Sofia, uma amiga minha que conheci porque a cama dela está ao lado da minha
-Se quiseres por mim estás à vontade.
-Fixe.
-Eu estava no gozo, sabes? Vou correr mas se quiseres vir estás à vontade.
-Oh!!! - disse a Sofia verdadeiramente desapontada é que a rapariga tem um ódio por cor-de-rosa que é algo de notável - não obrigado já me basta correr o que me obrigam!
-Ok. Até daqui a um bocado.
-Transpira muito! - disse a Ana
Os dois meses que já cá tinha passado tinham-me permitido perceber que se quero correr o melhor é fazê-lo à noite porque os campos estão livres e não há ninguém a ver. A culpa deste meu hábito é da Ana porque ela diz que assim está mais concentrada porque não tem uma porrada de gajos podres de bons à volta, ou seja não tem para onde olhar o que reduz em muito a possibilidade de uma pessoa cair porque está distraída a apreciar os abdominais de algum rapaz que teve a brilhante ideia de tirar a camisa ou de ficar só com a t-shirt da nossa farda que é uma coisa ligeiramente pró apertada. Por isso lá estava eu a correr muito bem quando de repente não sei como tropeço numa coisa qualquer e cai-o estatelada no chão.
-AU!!!!!!!!!!!!! Raios!!!! O MEU PÉ!!!!!!!!- Gritei eu enquanto me tentava levantar mas quando me levantei cai de imediato, ou pelo menos devia de ter caído. Havia alguém a segurar-me impedindo-me de cair, o que até era bom porque a avaliar pela dor e pelo estalo que tinha dado eu devia ter feito uma bonita entorse no pé.
-Estás bem? - perguntou uma voz forte
-Sim. Já me podes deixar- disse eu, embora se ele me continuasse a prender assim eu não me importa-se se ele não me deixa-se, conseguia sentir os músculos dos braços dele a suster-me e acreditem em mim não eram nada fracos.
-De certeza que consegues manter-te em pé?
-Sim. Acho que sim.
-Ok. Vou largar-te. - disse ele como se não acreditasse que eu me iria conseguir segurar em pé.
-Está bem. - disse eu, a verdade é que eu também não acreditava muito que me conseguisse segurar sozinha mas o braço dele à minha volta estava a interferir com a minha cabeça, já para não falar no cheiro dele e estava com medo que ele conseguisse ouvir o meu coração a bater feito doido.
E ele largou-me o que fez com que eu me desequilibrasse para a frente e tivesse quase caído para o chão se ele não me tivesse segurado, outra vez!
-Acho que é melhor não te largar ou ainda cais. Já agora porquê que cais-te?
-Tropecei em qualquer coisa, parecia uma arma mas não tenho a certeza.
-Uma arma? Tens a certeza?!
-Eu sei que é improvável mas foi o que pareceu.
-Aonde é que tropeçaste? - perguntou ele
-Ali - disse eu apontando para o sítio
-Fica aqui que eu vou ver - disse-me enquanto me sentava no chão
-Tens razão. É mesmo uma arma. - disse ele ao chegar ao lugar que lhe tinha indicado - Mas o que é que fará aqui abandonada? Não é suposto estar uma arma abandonada no chão. Ainda por cima no meio do campo de treinos.
-Achas que alguém a deixou aí de propósito?
-Se calhar. Vamos à enfermaria. - disse ele enquanto me pegava ao cola como se eu fosse a coisa mais leve do mundo.
-Não é preciso a sério.
-Eu até dizia que não mas não se vê grande coisa para ter a certeza.
-A sério que não é nada! Acredita em mim.
-És médica por acaso?
-Quase só me faltam 4 anos.
-Só me faltam dois por isso quem decide sou eu.
-Desculpa?
-Estou no terceiro ano de medicina e tu pelos vistos só andas no primeiro, por isso quem decide se precisas ou não de ir à enfermaria sou eu.
-Está bem ganhas-te.
-Sou o Ricardo já agora.
-Daniela.
Quando sai-mos do campo e começou a haver claridade graças aos candeeiros consegui ver-lhe a cara o que não ajudou em muito para diminuir o meu ritmo cardíaco. O gajo não só era forte e tinha uns bons abdominais (eu conseguia senti-los mesmo por debaixo da farda!) como cheirava bem e tinha uma cara linda!!! Era meio loiro e tinha uns olhos castanhos lindos de morrer! Deus queira que ele não consiga sentir o meu ritmo cardíaco a acelerar.
-Oh meu deus!! O que é que fizeste Gomes? - perguntou a enfermeira ao Ricardo quando ele entrou comigo ao colo.
-Eu nada! Ela é que tropeçou. Só a ajudei a vir para aqui.
-Estás bem querida? - perguntou-me a enfermeira preocupada.
-Sim só magoei o pé.
-Que a avaliar pela tua capacidade de te manteres em pé é bem capaz de ser um entorse.
Em respostas a isto fuzilei-o com um olhar. Aquele traidor tinha mesmo que abrir a boca?
-Em que é tropeças-te querida?
-Não é melhor dá-lhe algo para as dores é que pela cara dela aquilo não deve doer pouco. - disse o Ricardo ou Gomes, é que esta mania do pessoal se tratar pelos apelidos às vezes até mete piada!
-Tens razão. Desculpa querida. - disse a enfermeira enquanto preparava uma agulha
-Deixe estar. Não é preciso! - disse eu apavorada, eu detesto agulhas!!!
-Não acredito! Uma futura médica com medo de uma agulhazinha?! - troçou o Ricardo - Toma. - disse ele estendendo a mão
Eu até tinha recusado mas é que estava mesmo apavorada. Eu não gostava mesmo nada de agulhas.
-Obrigada. . disse eu apertando-lhe a mão.
E depois aconteceu uma coisa estranha. Não ele não me beijou, embora não me tivesse importado se isso tivesse acontecido. Quando o Ricardo me viu a começar a tremer por causa da agulha e a apertar-lhe a mão com toda a força, ele agarrou-me sentou-me ao colo dele e encostou-me a cabeça contra o peito dele de maneira a eu não conseguir ver a agulha, o que foi super querido. E quando eu senti a agulha a espetar-me ele murmurou-me ao ouvido:
-Está tudo bem. A sério já passou.
Eu estava a sentir bem mas ao mesmo tempo uma pita por estar a agir daquela maneira por causa de uma agulha.
-Já está- disse a enfermeira, enquanto me começou a examinar o pé.
-Então mas afinal tropeças-te em quê? - voltou a perguntar a enfermeira
-Numa arma- disse eu
-Numa arma? Aonde? - perguntou a enfermeira verdadeiramente escandalizada
-No campo de treinos.
-Não pode ser como é que uma arma lá foi parar?
-Não faço ideia.
-Tens o pé torto. Vais ficar sem treinar durante um mês pelo menos. E depois logo se vê.
-O quê? - perguntei eu
-Um mês sem fazeres esforços e vais andar de muletas e com uma ligadura.
-Isto só a mim.
-Podia ter sido pior - disse o Ricardo
-Que positivismo danado! - respondi-lhe eu.
-É melhor irem ao gabinete do director participar que encontraram a aram no chão.
-Sim, nós vamos.
-Vens? - perguntou-me o Ricardo
-Sim
-Consegues andar com isso ou queres que te leve ao colo? - perguntou-me o Ricardo quando saímos da enfermaria
-Acho que consigo andar obrigado´.
Quando chegamos ao gabinete do director o homem não queria acreditar que alguém pudesse ter deixado uma arma assim no meio do campo, mas depois lá se convenceu e disse que ia abrir uma investigação sobre isso, porque afinal não é todos os dias que se vê uma pistola de 7,65mm abandonada no meio do campo de treinos.
No final o Ricardo acompanhou-me até à minha caserna com o pretexto de verificar que eu não voltava a tropeçar.
-Bem eu fico aqui. Obrigada por tudo.
-Não tens de quê. - disse ele
-Bem....... Boa noite - disse eu
-Boa noite - disse ele e deu-me um beijo na testa.- dorme bem.
-Obrigada. Tu também.
Bem a Academia acabou de ganhar um outro encanto. Esperem só até eu contar à Ana e à Sofia!!